terça-feira, 8 de março de 2011

O meu próprio país.

Quando você é criança, o seu mundo se ajusta aos seus desejos e é nesse mundo que você vive feliz. Às vezes acontecem imprevistos, seus pais dizem que não podem realizar seus sonhos, mas a coisa mais fácil é encontrar novas possibilidades e esquecer aquilo que não foi possível realizar. Eu sou entre três irmãos a filha caçula, única menina e além desse universo moldado pela proteção dos meus pais, eu tinha o meu próprio refúgio, o meu próprio "mundo da imaginação". Parece loucura analisar esse fato agora, mas para a criança sonhadora que eu era, era pura diversão.

Eu me autonomeio uma criança sozinha porque não tinha contato com primos de mesma idade e nem vivia em um bairro infestado de crianças; quando não estava assistindo aos programas da TV Cultura, os desenhos da Disney e as novelas mexicanas, estava brincando com as minhas bonecas, sozinha. Para isso, eu criava meus próprios diálogos e cenários; cada boneca tinha uma voz, uma personalidade e um nome. Meu irmão mais velho fazia tudo por mim e era complacente às minhas fantasias, sempre se interessava pelos meus assuntos e alimentava a minha imaginação. Talvez por isso ele tenha sido a maior vítima das minhas loucuras infantis.

Sabe quando você é criança e quer ser tudo o que existe no mundo? Princesa, super heroína, médica, dentista, professora, veterinária, cantora, detetive, atriz, cozinheira, artista de circo, pintora e tantas outras coisas? No meu país eu era tudo isso, bastava uma visita ao guarda roupa da minha mãe, um óculos escuro e um sorriso exagerado. O óculos escuro era a dica pro meu irmão saber se era eu, Rejane, ou se era algum personagem. O sorriso exagerado era bobagem mesmo. Eu criava situações, minhas bonecas viravam pacientes, alunas, amigas, malabares. Elas sofriam. Eu não faço ideia de como eu criei essa forma de brincar, só sei que eu criei. Não sei quanto tempo durou, mas durou tempo suficiente pra marcar minha memória. Quando tudo deixou de ter graça pra mim, meu irmão ainda insistia em querer saber como estavam a "doutora" ou a "dentista" e eu só desconversava. Dava risada e não respondia.

Muitos ficam surpresos quando eu respondo: "vou fazer 19 anos" e a surpresa não é só por causa da carinha de criança que a genética me forneceu, da voz que não atingiu um tom convincente, da altura que não me deu o porte ideal, mas principalmente pela forma como eu levo a minha vida. É importante não negar o que se é e a presença da minha criança interior é marcante, basta passar 5 minutos em minha companhia. Eu amadureci, me eduquei pra ser adulta e enfrento os desafios que me foram impostos por isso, não abandonei os gostos peculiares, os bichinhos de pelúcia nas prateleiras do quarto ou a visão romântica de enxergar o meu mundo ideal. Já não acredito fielmente em finais felizes porque aprendi a me decepcionar. Acredito na positividade, no poder do sorriso e na manutenção da inocência.

Para muitas pessoas da minha idade, a infância foi marcada por brincadeiras e jogos em grupo e eu também participei destas brincadeiras. A diferença é que antes de descobrir como era brincar com outras pessoas, eu brinquei comigo mesma.

Texto com análise baseada em relatos da infância, articulado para a disciplina de Estudos da Semiótica. 3º semestre de Jornalismo.

2 comentários:

Paula Santana disse...

Rejaaane! Eu li os dois textos e eles são mesmo quase iguais, mas eu preferi o segundo, apesar de que o último parágrafo do primeiro texto está sensacional. Adorei o jeito que você escreveu, really! beeeijos :) haha

Wendy Manfredini disse...

Eu juro que meu olho encheu de lágrima agora, mas como estou no trabalho, não costumo chorar em público e além disso possuo um controle psicológico incrível, me controlarei.

Re, seus textos tem essência e é o que mais gosto quando leio algo. E é incrível, mas eu consigo criar uma cena quando leio seus textos.

Você fez minha imaginação fluir!

E você é tudo que quero ser quando eu crescer! HEHE (:


Um beijo!